Leonardo

Me confundi e fiz a gente descer no ponto errado em direção à praça de Taboão aonde marcamos de encontrar um grupo de secundas que conhecemos na semana anterior. Dali não valia a pena pegar outro ônibus e acabamos pedindo um Uber. O Leonardo foi auxiliar de escritório, mas trabalha faz uns anos como motorista. Preferia o trampo anterior porque nesse as contas quase não fecham. Pergunto se a greve dos caminhoneiros o atrapalhou e ele diz que não saiu de casa. “Não trabalhei e não recebi”. Ele perguntou mais de uma vez o que estávamos indo fazer na praça, sua curiosidade aumentou quando eu mencionei que vinha do Tatuapé (do outro lado da cidade). Dei uma escorregada dizendo que viemos encontrar uns amigos. Lá pelas tantas pergunto sobre a greve dos caminhoneiros e ele responde com convicção que os defende. Se mostra incomodado que pouca gente apoiou o movimento: “enquanto eles estavam lá, as pessoas faziam fila para abastecer.” Por isso ele havia parado, era uma forma de participar da greve. Para ele era preciso que todos nos uníssemos para mudar as coisas. Pergunto que coisas precisavam mudar. “Era preciso parar até que fizessem todas as reformas: política, agrária…”. Indago sobre o que ele espera de uma reforma política. Ele fala em renovação e transparência. Tento ir mais fundo perguntando sobre modelo de votação no que ele me diz encabulado que não é politizado, mas que acha que deveria haver mais transparência. A essa altura me sinto a vontade para contar que estávamos indo para a praça protestar. Ele menciona que semana passada teve um protesto. “De motoboys, né?”. “Não só” — ele me corrige. Relato para ele os eventos inusitados que vivenciamos na semana passada. Agradeço a corrida desejando sorte. “Para nós”, ele responde. Comento com a Milena que ele é muito de esquerda. “Sim, e ele nem sabe disso.”

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